O escritório não precisa de mim

Estive uns dias fora do trabalho. E, sou tão dedicada ao meu emprego, que quando regresso espero sempre que tenha acontecido algo imprevisível, que um vulcão tenha entrado em erupção, que alguém não tenha afagado o cavalo da mesma forma e que ele tenha fugido a galope e só eu o possa trazer a casa de novo. Que não tenham tratado das coisas com o carinho e devoção que eu lhes empresto. Mas não. Quando chego tudo correu normalmente. A ilha está intacta, seus habitantes descontraídos e felizes. Então, eu duvido dos meus méritos. Se a devoção não é imprescindível, então qualquer um se pode sentar no meu lugar e governar essa ilha coberta de lava. Talvez este escritório não precise de mim. Talvez, na realidade, seja eu que preciso dele. E vem a pergunta: o que estou aqui a fazer?

(Imagem: Na vida, podemos fazer o que quisermos. Gene Davis (1920 – 1985) decidiu passá-la a pintar riscas. Aqui está ele em 1972 em frente ao Philadelphia Museum of Art.)