A mulher-grilo só come salada

Almocei com a mulher-grilo. Ao almoço, como todos sabem, a mulher-grilo só come salada. Salada de queijo feta. Salada de frango. Salada tropical. Salada César, sem parmesão e com molho à parte. De volta ao escritório, a mulher-grilo guarda no seu cacifo o seu próprio chá verde que prepara duas vezes ao dia. De manhã e à tarde. No frigorífico da copa, guarda um iogurte de soja e uma maçã vermelhinha. A mulher-grilo é uma control freak. E as suas saladas são o seu terreno de batalha. A mulher-grilo gostaria de controlar tudo o que acontece no mundo. Como não consegue, opta por fiscalizar tudo o que come. As suas saladas são o reflexo do universo com que a mulher-grilo sonha. Verdes, bonitas, saudáveis, organizadas. Fora desse prato de alface explodem granadas, a cidade está sendo bombardeada, um deserto de cinza comeu toda a floresta. Há um maremoto engolindo as avenidas. A natureza está desgovernada. Nada na vida da mulher-grilo é tão incrível e tão perfeito como essas saladas que ela come ao almoço.

(Imagem: Escrevi uma história infantil, que a fabulosa Maria João Lopes ilustrou)

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4 comments

  1. Que bom! Que bom! Temos andado aqui em casa com “Quando a mãe era pequena”… e muito contentes 🙂 Acho que não há nada melhor do que unicórnios!

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