As pessoas que estão devendo dinheiro ao FMI, porque andaram a viver acima das suas possibilidades (comprando plasmas, pondo filhos na escola, indo ao médico e passando férias em Monte Gordo) iam hoje apertadas como sardinhas em lata no autocarro 750. Da Estação do Oriente até Algés, passando pelo Campo Grande, Colombo e Estação de Benfica. Os carros tinham desistido na Segunda Circular e tudo estava parado. Lá fora estavam 30ºC, mas dentro do autocarro suado era um verão húmido e tropical.
Esses devedores, vestidos com suas roupas floridas e calções de turista, nem queriam saber da situação na Grécia ou do que dizia o ministro das finanças alemão. Quem sabe, em casa, mudassem até de canal e escolhessem ver outra coisa na televisão. Do outro lado do écran, tudo parece fingido. Tudo parece igual. É uma realidade suspensa onde a mentira não tem peso.
Para as pessoas que estão devendo dinheiro ao FMI a vida inteira é uma gigantesca dívida e nem vale mais a pena perguntar o que se está pagando. Só precisam saber que a conta chega sempre. E, como os pais de família no restaurante, eles pegam na fatura e a liquidam como podem. Mesmo que não possam. Mas depois têm a sua vingança. É que na hora de botar a cruzinha – quando é preciso a sua opinião – vem-lhes o riso imenso e saem correndo para a praia.
(Imagem: Hora do mergulho com Eric Zener)