Sábado de manhã e nós na FNAC à procura de um presente, tão derrotados pela vida que nem o café fez efeito. Sem saber quem somos sem as botas de salto alto e o sorriso fresco que usamos no emprego às segundas, terças e quartas. Na nossa vida prometida devíamos estar a fazer algo mais interessante ao fim de semana. Há um homem que nos olha de longe com um bebé ao colo, meio gordo, barba por fazer. Um velho. É quando vamos para casa de carro que finalmente nos ocorre. Aquele era o João Costa, o miúdo giro do liceu. Olhamos o retrovisor com rapidez. Pelas veias sobe-nos um pânico. Estarei assim tão acabada?
(Na foto: Os figos muduros de Luciano Ventrone. “L’oro della vita”)